A expansão do ensino superior no Brasil iniciou-se no final dos anos 60 com a expansão do ensino superior privado.
Entre 1960 e 1970, além das instituições confessionais já existentes, começou a se estruturar um setor privado de instituições isoladas. Sendo assim auto sustentáveis devido às mensalidades cobradas.
Em meados de 1973, o Brasil passava por uma crise econômica, com a queda das taxas de crescimento e retração do mercado de trabalho. Por isso as instituições privadas sentiram os impactos que demandaram do governo algum tipo de apoio. Mas que vem, em 1975, com o nome de Programa de Crédito Educativo (CREDUC), programa que financiava as mensalidades e custeava os estudantes de cursos de graduação utilizando o critério de renda familiar.
Os juros eram de 15% ao ano e o aluno começava a pagar um ano depois de formado proporcional ao salário do beneficiário. Segundo o MEC, o CREDUC beneficiou “mais de 870 mil estudantes”.
Crise econômica
Com a crise econômica instalada nessa década, o aumento da inflação e dificuldades dos formandos se colocarem no mercado de trabalho. E assim aumentou para mais de 50% a inadimplência, o programa se torna deficitário demais para o MEC.
No final de 1983, o programa já operava com um déficit de US$ 83 milhões. De 1983 até 1996, várias reformulações são postas em prática, principalmente relacionadas ao custeio do programa, porém ele quase se extingue.
Em 1999, foi criado o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior, atualmente chamado de Fundo de Financiamento Estudantil (FIES). Mas com o objetivo de financiar as mensalidades dos estudantes de cursos de graduação de instituições não públicas.
Assim como o antigo CREDUC, o FIES passa por inúmeras “melhorias” em relação às entidades financiadoras, garantidoras e administrativas.
O que é mais relevante nesse período é que a partir de 2010 a operacionalização se dá através do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). Redução do juros que era de 9,4% na implementação do programa, alargamento do período de carência e período de amortização 3 vezes maior que o financiado.
E também, assim como o CREDUC, o FIES atualmente passa por várias “provações”, sobretudo relacionadas ao contexto econômico do nosso país.
Com a crise econômica, forte impacto na cadeia produtiva e, sobretudo nos empregos. O FIES está sofrendo com alta taxa de inadimplência e carência de recursos governamentais.
Em 31/07/2017, dado mais atualizado disponível no site do MEC. A dívida de estudantes com 90 dias ou mais de atraso, na fase de amortização do empréstimo, alcançou o valor de R$ 3,7 bilhões de reais, representando 33,8% do valor da dívida nessa fase.
Segundo reportagem do G1, e com base na Lei de Acesso a Informação (até o final deste artigo não recebemos resposta do FNDE sobre o mesmo assunto*), as dívidas já chegam a 10 bilhões de reais com o fundo, considerando parcelas em fase de amortização com 1 dia atraso. Inclusive por isso o Tribunal de Contas da União determinou a inclusão do FIES no anexo de Riscos Fiscais das leis de diretrizes orçamentárias anuais. Então significa que o programa pode ser declarado insustentável pelos motivos de:
1) risco de crédito;
2) subsídio implícito;
3) governança do programa.
Enfim, estão tentando levar a sério a gestão do programa ainda mais considerando que a exposição (risco) do governo. Considerando tudo que tem a receber em amortização ou em curso, é de 122 bilhões de reais.
Fonte: G1 e, 19/06/2019; 15:00hs Brasília.
*utilizamos como base para os números deste artigo a nota técnica número 4/2018/COFIN/CGSUP/DIGEF. Última disponível no site do FNDE cujo assunto é o plano trienal FIES para o período 2019 a 2021.
Por fim, com o intuito de limitar os impactos fiscais do FIES. Mas depois de medidas provisórias e portarias com foco na sustentabilidade e melhoria da gestão, foram implementadas algumas mudanças muito importantes. Dentre elas, plano trienal pré-aprovado, onde se encontram planejadas e anunciadas as vagas anuais e valores.
Além disso, a diminuição do risco moral do estudante não concedendo 100% de financiamento, obrigação de aderir ao novo fies, dentre outras, aqui detalhadas:
- Ausência de carência após a conclusão do curso;
- Participação das instituições de ensino como cotista do FG FIES
- Contribuição para o FG FIES em percentual proporcional à inadimplência observada na carteira de cada instituição de ensino;
- Pagamento consignado em folha e vinculado à renda do estudante financiado;
- Possibilidade de renegociação do saldo devedor
- Seguro prestamista para assegurar a liquidação do financiamento em caso de falecimento ou invalidez permanente do estudante financiado; e
- Coparticipação paga pelo estudante diretamente ao agente financeiro.
E por fim, um complemento nosso, estimular a economia para diminuir juros, aumentar empregos e diminuir a inadimplência.
Parece simples, mas é pelo que torcemos. Assim sendo, esperamos a consequente diminuição de risco do FIES, a manutenção do programa pelo governo. Pois em um país com 18% de escolaridade líquida no ensino superior este já é argumento suficiente para determinar a importância social e econômica deste programa para os cidadãos, famílias e futuro do nosso país.
No próximo artigo sobre este tema. Falaremos então sobre o Plano Trienal FIES 2019 a 2021 – Regras e expectativas quanto a vagas e valores destinados ao programa.